Era verão, dia primeiro de Janeiro. O dia da ressaca de Cidra Cereser e da azia de perníl com batata e uva passa (pobre adora tendência, para fazer agridoce soca uva passa até no acarajé). Sentiu que o dia tinha tudo para começar bem? Pois começou!
Uma propaganda já vinha aflingindo minha mãezinha desde o Natal! Era O MEGA HIPER SALDÃO CASAS BAHIA, marcado para a virada do ano. Aquela propaganda cheia de gente se estapiando pelo forninho elétrico de R$19.99 já pertubava os sonhos da matriarca da casa. Mãezinha então DECIDIU ir ao saldão... foi então que a desgraça iniciou-se! No dia 30 de dezembro fomos a loja, escolhemos o bem a ser levado (um sofá de florzinha estilo Chita Crioulla) e decoramos o caminho até o cobiçado produto. Vem Cá...., tudo que mais pobre faz da vida é sonhar, alguns até planejam, mas se dar bem em algo?... ai é demais!
O tal dia chegou, às 5 da manhã estavamos nós na porta da loja. Tudu mundu di bustinhu suadu pós reveillon (tão digno escrever esta palavra). Assim como minha mãe, o saldão era o sonho de toda a classe menos favorecida. Imaginou o fervo?? Todos lá fazendo a segunda contagem regressiva da noite, com os bracinhos pra cima, com coreografía e tudo mais. Ao maior estilo "macarena", a galera agitava o caldeirão dizendo -- Abre essa porta aí, abre logo aí..!!
Como não somos daqueles né, eu e minha mãe, pessoas alfabetizadas no berço da educação, não participamos da cantoria coreografada. Demos logo é murros na porta esguelando -- Abre essa Pohrra logo!! É nessas horas que nos perguntamos, por quê fizemos isso? O funcionário das Bahia´s House veio e atendeu o nosso pedido. Nossos olhinhos brilharam cheios de lágrimas diante de tantas ofertas 50%, mas isso durou apenas milésimos de instântes. A garela de trás, povão da macarena, disparou pra dentro do recinto. Eu segui o movimento, mas... cadê minha mãe? O encanto foi tanto que a coitadinha não percebeu o degrau da entrada, tropeçou e por alí mesmo ficou. Enquanto o povão corria para as entranhas da loja, como a fome corre atrás da comida, minha mãe estava alí, cinturinha no degrau e cabecinha na calçada, gritando desesperadamente -- O sofá é meu, ééé meu! Era a única reação que ainda lhe sobrava. Para e imagina a cena... foi bem triste e traumatizante para mim, ver a minha mãe como tapete de saldão pairará em minha memória 4evis. snif snif
Depois de resurgir das cinzas, mamãe levantou e correu atrás do seu sofá. Como o caminho não estava livre até ele, rolou umas 5 ofensas verbais, umas 3 ofensas físicas, uns par de puxão de cabelo, umas bicudinhas nas crianças à paisana e se pá até um óbito por estrangulamento. "Lute pelos seus objetivos". Mas era tarde demais. Uma senhora já tinha se aponderado do sofá, ela e toda sua gangue. A muié levou os 7 filhos, os 13 netos, 5 bisnétos e um feto dentro de um vidro de picles, ...enfim, toda a prole chinelo havaianas marrom encardido estava lá fazendo cordão de isolamento no sofá! Virei pra minha mãe e disse: Nem q eu fosse Bond, James Bond e vc a Dilma Roussef, dariamos conta de tanta pobreza. É, perdemos praiboy.
Fomos para a casa sem cantar Mamonas Assassinas no caminho ... a minha felicidade é um crediário nas casas Bahia... ! Triste. Enquanto minha mãe tomava banho e tentava retirar suas marcas semi-definitivas de pisadas, eu, com toda a minha mente artistica, com todo o meu espírito inovador (traduzindo: esquisofrênico) tive uma nem tão ilustre idéia. Peguei meu estojinho de canetinhas da china e sai desembestado desenhando frôzinha no sofá branco da minha mãe. Saindo do banho... Surpresa!! ...Mãe, mãe, você está bem? Está chorando por quê, gostou da surpresa? Então ouvi: Além de suar meu bustinho a touua na madruga, dançar a macarena, lutar como Schwarzenegger, quebrar minha unha na jugular de uma oponente, e perder meu sofá pra um feto, você me faz isso filho?? Preciso procurar meu psiquiatra, concluiu ela. Ihhh, é ruim einh, análise é coisa pra rhyco meu amor, faz assim, vai no SUS e marca uma consulta com um ginecologista. Quem sabe ele não te faz feliz?